FOTOAFORISMOS

jueves, 18 de octubre de 2012

Diário Anacrônico IV

Tive notícia, esta tarde, que das remotas culturas que a humanidade vem acumulando, existiu uma em particular que não conhecia o tempo - ou pelo menos se concluiu isto - como mecanismo regulador de consciência e de percepção, como o é para nós.

Gostaria - e penso mesmo que me recrearia sem interesses com isto - de apartar este regulador mecanismo da sombra de minhas percepções também. De todas maneiras não irei investigar como o fazia esta remota cultura, como alguém podería sugerir-me. Não gostaria que ninguém me ensinasse a fazê-lo, nem mesmo os livros. Tudo o que não aprendo por mim mesmo me parece artificial e alheio. 

Podendo supor, imagino o quão edificante seria viver sem o enquadramento típico das temporalidades e das extensões da consciência moderna (atrás/adiante, antes/depois, hoje/amanhã, infancia/madurez/senilidade, nascer/morrer, passado/futuro, ansiedade/paciência, verso/anverso/reverso, ac-dc) onde estamos aprisionados.
foto   Lori de Almeida

Pacíficamente edificar a vida sem a pretensão de evoluir; viver sem a obrigação que todo  o amadurecimento exige, abdicar da extensão do que existe para cada um, em favor do intenso que cada um possa ser a qualquer instante.

Sem lugar a dúvidas, notícias como a que tive, perdem a credibilidade quando se vive infectado pelo futuro-nosso-de-cada-dia, como nós vivemos. Uma prova desta infecção? Em qualquer momento posso recordar com claridade, a ansiedade que me assaltava frequentemente em minhas noites de menino: qual nome o futuro me escolherá? Aqui onde onde vivo nos mudam o nome natal ao morrer, e somos batizados para viver a eternidade com outro nome.

De nascimento meu pai recebeu do passado o nome de seu bisavô. Mas morreu como Irol, que não se refere a nenhum personagem familiar. Irol foi personagem popular entre o que se alfabetizaram - em tempos de meus avós - nos manuais escolares de "ciência e ficção" e de  "atitudes experimentais de grupo". Não aprendi linguagem nestes manuais, mas conheço o personagem que caracterizou também meu pai. Não conheço tais manuais, não conheci a meu pai...ele esteve ausente muito tempo e acabou por morrer, longe da família, quando eu entrava nos meus anos de juventude. Em todo o caso...sim...meu pai me fazia lembrar o Irol...

Para mim pois, que crescí apartado de minha ascendência, então...não foi difícil que me lançassem sem reservas ao día seguinte, já no dia anterior. Pena que a vida assim nos dá pouco repousar. São frequentes as jornadas em que percebo o futuro invadindo cada instante  do meu caminhar, e fazendo-se a sombra determinante de todas as minhas atitudes até a noite de descansar. 

Somente em sonho abandono todas estas percepções...porém, assim que os olhos despertam... outro novo futuro a um passo está, diante de meus olhos, a me esperar...

Mas o futuro não está feito dos verdadeiros sonhos...um sonho verdadeiro pode em um instante, extender o tempo e deixar nele o desfrute do intenso. Distinto é o futuro, pois nos ilude com a promessa da intensidade e de um instante original, que ainda não podemos experimentar.

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