FOTOAFORISMOS

lunes, 22 de abril de 2019

caderno de outono - poema I

tratamento foto FCT


De onda em onda
O mar conquista a praia
De onda em onda o mar avança.
Em cada uma, um grão de areia
Como uma lembrança mais,
Fica na praia
Sobre a herança de outras ondas.

De dia em dia
O sol conquista a vida,
De dia em dia a terra avança.
De cada noite um pouco de sonho,
Como uma existência mais,
Fica na vida
Sobre a abundância de outros sonhos.

De passo em passo
O pé conquista o chão,
De passo em passo a vida cansa.
Em cada vida um sopro de alma,
Como uma ausência mais,
Fica no chão,
Sob a esperança de outros passos.

jueves, 11 de abril de 2019

poemas em verão final

Há dias está
Esta chuva.
Acalmando o seco-quente - que também está -
Com prescrição de gotas a 100%
Em ventos-úmidos-diuturnos;
Dieta de líquidos e brisas
Para limpar, lavar, escoar e levar
Folha por folha, dia-a-dia
Um bosque de pensamentos
Junto à janela embaçada de hálito e ilusões.


Estou sedado pelo aroma que
Desprende ao tocar o chão
Cada cápsula molhada das alturas
Lançada com tantas outras
para cumprir um único e sonoro destino.


foto Lori de Almeida
Embaixo, atrás e depois de calada a voz,
Deste coro de aplausos que nasce
No ruídos das águas quando varrem o “lá fora”,
No silêncio ao alcance,
Um sussurro de consciente-interior
Se confunde ao presente:

Todos os desejos, súplicas, rezas, gratidões
Que lancei e ofereci ao Céu
Do dia da noite da madrugada
E do amanhecer e atardecer;
Ele me devolveu
Em prata translúcida-opaca
Milharmente dividida diluida
Em bolsas minúsculas
De agua purificada
E saudosa de terra.
Nada mais..
Esta é a riqueza que vem do alto. Basta aceitá-la.

primavera de 50 - III

Ah! Palmeira!
Deixa suas folhas
Para o vento
com elas flanar.

Ser a folha de palmeira
Dividida em centenar de outras mais
Que ora pesam
Ora fazem levitar.


Cem tentáculos buscando água e luz
Como cem dedos que no vento
Tentam se ungir, tingir
Resistir e se deixar levar.
Cem penas, para que possas flutuar.

Ah! Palmeira!
Deixa que duas folhas
De tua cabeça folhada
Abram o primeiro abraço
Quando se levante o vento,
Deixe nele seu farfalhar

Benção tua

Para quem vai sem voltar.

primavera de 50 - II

Detrás da sombra -
De todos nós reunidos em terra -
Vigía a lua nova
Nosso solo -
Sua vigia ausente.
foto Lori de Almeida - Itapoá - SC


Porque se mostra escura?
Por que se põe a mostra
Assim toda escondida em sombras,


Nos espia? Se esconde?


Nada disso


“Sua atitude é nosso mistério” -
disse algum oráculo.


“Decifre sem enredar-se” -
disse algum mestre.


“Olhe para cima como se olhasse para dentro.
Olhe para fora como se olhasse do alto” -
disse algum yogui.

Primavera de 50

I
Minha vida,
Dentro de duas gavetas
Pude juntar.

Meus sonhos,
Não maiores qu’um olhar.

Meu amor,
Em seu coração
Justa medida encontrou.

Minha alma,
N’outro mundo caberá!

II

Sinto que fui… e
Tal Alexandre, o Magno
Sinto vontade de regressar
como ele
Nem pelo mesmo caminho,
E…
Menos ainda, para o mesmo lugar.

III

Longe se chega, quando não se pára de ir.
Longe se vai, quando não se pensa voltar.
Fui cada vez mais longe sem saber de onde vinha,
Longe fui, sem porquê querer ficar.

Não estou cansado, não estou esgotado
Nem desiludido ou desamparado.
Este tanto-mundo lá fora
Me trouxe pra dentro.
Busco no coração
Meu aposento.
Pouca mobília,
Uma gaveta:
Tua foto
Dentro.

foto Lori de Almeida - Alquézar - Espanha.