É preciso corrigir-se nos pequenos erros
que cometemos ao desejar algo inconsequentemente. A vida por exemplo, desejamos em primeira pessoa, imortaliza-la. Basta, dedicar um escasso minuto, observando os adolescentes e com gosto,
nos veríamos alí com eles a brincar de imortais e compartilhando desta ilusão.
Mas infelizmente a vida não para alí... e
no momento seguinte, outro instante da realidade, faz girar a roda do tempo.
O tempo não é esta linha contínua, reta e
progressiva que nos ensinou a física clássica – e estou seguro que tampouco seria assim na
imortalidade, como todos imaginam. Não se equivocam de todo, estes senhores de
ciência, porém descreveram do tempo apenas suas impressões exteriores a nós.
Dentro de cada um, o tempo está emaranhado em impressões sem forma, sensações
inusitadas e imagens anacrônicas em insistente ir-e-vir. Deve ser por isso que a maioria prefira
viver na exterioridade de si: com o conhecimento da realidade temporal linear,
extensível e progressiva.
foto Lori de Almeida |
São estes os que desejam tempo suficiente para seguir esta linha até o futuro, com medo que ele não venha os pertencer.
Porque afinal, de que os serviria desatar os nós de seu interior intemporal e anacrônico, quando se é necessário viver a ansiedade do devir? Poucos preferirão a árdua e diuturna jornada de desenredar-se a si mesmo, sem projeto de começo e fim...
Não sabem, estes muitos, que o tempo
reclamado não lhes proporcionará o desejo que veem tão cegamente: o corpo é o
responsável pela extensão desta linha temporal e definirá também, quanto esforço caberá cumprir, cada qual, para
segui-la reta e progressivamente. O desejo de imortalidade é a peça que lhes
pregou o espírito.
Por outro lado verá, com satisfação,
estender-se atrás de sí uma linha reta - ainda que com as imperfeições que lhe
imprimiu o destino –, o homem que foi desemaranhando cada um dos laços de
seu interior, e até onde pôde ele chegar, descuidando-se do tempo.
Pode ser que não tenha vivido muito... Sem
dúvida viveu bem.