FOTOAFORISMOS

viernes, 14 de diciembre de 2012

Diário anacrônico VII - Uma natureza para o "Eu"

      Diante de mim postou-se um senhor de seus sessenta anos, imagino, interrompendo-me - e olhando-me com estranheza - os exercícios físicos que venho tentando praticar a cada  manhã, em sua hora mais fresca e ao ar livre. Desde que me ocupo dos días passados de Heinrisk, tenho estado em constante estado de interiorização e absorto em pensamentos. Por isso quase sempre sou tomado de susto com a  presença repentina de qualquer pessoa diante de mim. Busco com a Ginástica apegar-me um pouco a realidade objetiva, do mundo que tenho a minha volta.

A Ginástica foi uma espécie de sabedoria corporal milenar, praticada individual e coletivamente. Durante mais de milênio sofreu interpretações, adaptações e modificações as mais diferentes. Não podería ter passado de outra maneira: o homem, nestes tempos de Ginásticas, vivía sob a influência do que conhecíamos como "cultura".

Também escolhi praticá-la como forma de provar novas sensações físicas, após a primeira autocirurgia de correção. Para atingir tal objetivo escolhi, entre as modalidades de ginástica que pude me informar, aquela que pudesse ser realizada desprovidamente de recurso material ou motivação extrínseca.

Desde então o corpo me é tão presente com sua respiração, suor, palpitações e tato que me afastei ainda mais da realidade. O que era antes uma parte de meu espírito, agora são instantes de consciência fisiológica que reclamam independência.

Estas sensações vêm confundindo e contrastando as cores e as perspectivas de minha espiritualidade. Meu eu parece exigir-me outra natureza.

foto   Lori de Almeida -  Bierge -   Alto Aragón - Spain
Mentalizei os ruídos de minha respiração - agora consciente de suas alterações (para um novo ritmo) - e pouco a pouco aquele homem foi desaparecendo...Devo fazer o mesmo com Heinrisk...

Está acordado, entre eu e Heinriski, deixarmos de falar para guardar sua autobiografia longe da influência de seus desejos hodiernos e de sua presença... Se assim...viverei seu passado tendo que ficcionar, fielmente, tudo o que ele viu e registrou.

Entre algumas fotos e cartas que me deixou pude ver quase nada de Heinrisk, mas encontrei um conforto: a espiritualidade, nem sempre coincide, em tom e linha, com o céu que a protege...

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